(PARÊNTESIS NA COLUNA DO SUZUKI, AQUI NO SUPERXADREZ.COM.BR, COM OUTRAS DE SUAS BABAQUICES)
TROCA DE GENTILEZAS
A chiquita, argentina, lanchava com amigos em um botequinho da orla marítima, perto do cais do porto, em São Sebastião – SP.
Entre os petiscos, havia algo parecido com minicenouras, provenientes, afirmavam sorridentes os comensais, da horta local de um agricultor de origem nipônica.
Seriam, então, minipocenouras? Por que, raios, tudo que é de japonês, dizem ser pequeno, deste tamaninho?
Um dos presentes ao encontro amigo, muy amigo, para exibir o seu poliglotismo a la hermanita, com uma minúscula cenoura entre o polegar e o indicador da mão direita, embaralhando Camões e Cervantes, perguntou-lhe: “puedo comer la cenourita”?
Não se sabe o que la hermanita entendeu, pois ela respondeu, furiosa: “vá comer a sua madrecita”!
Parece que ela confundiu cenourita com senhorita. Tomou apetite gastronômico, por apetite anatômico…
TROCA DE PASSAGEIROS
Um japonês (não fui eu, juro) comprou uma passagem de ônibus, na Estação Rodoviária de Campinas.
Seu destino era a cidade de Jundiaí, parada intermediária do percurso.
Por descuido ou pela pressa, só após embarcado no ônibus, ele percebeu que a passagem adquirida valia até o Terminal Rodoviário do Tietê, já na capital.
Sem se preocupar com o pequeno custo extra pago, morrendo de sono (por algum motivo, farra ou insônia, quase não havia dormido na noite anterior), ele pediu ao motorista que o acordasse quando da parada em Jundiaí, caso estivesse roncando.
Para garantia mútua, reforçou o pedido com uma propina, como se o motorista fosse igual a um reles politiqueiro (isto seria pleonasmo, como gelo gelado?): “por favor, se eu estiver dormindo, ou mesmo acordado mas distraído, pode me botar para fora do ônibus, na marra, ainda que eu proteste; para isso, adianto-lhe, sem querer ofendê-lo, esta pequena gratificação de vinte reais: preciso descer em Jundiaí de qualquer jeito, lá tenho um compromisso de suma importância”.
Porém, quando despertou ou foi despertado, viu que estava no Terminal Rodoviário do Tietê.
Puto da vida por não ter sido acordado e despejado em Jundiaí, apesar do pagamento para isso efetuado, lá foi o japonês tomar satisfação com o motorista, à vista dos demais passageiros que desembarcavam.
Um deles exclamou: “que japonês enfezado!”
Outro retrucou: “isso não é nada, você não viu o outro japonês, mais enfezado ainda, que o motorista “ponhou” para fora do ônibus, no braço, lá em Jundiaí?”
Coitado do motorista, confundiu um japonês com outro, quem mandou serem os japas todos parecidos, indistinguíveis? Expulsou do ônibus em Jundiaí, o coitado que ia para São Paulo, e deixou sonhando até São Paulo o que precisava ter descido em Jundiaí.
DESPROPORÇÕES GEOGRÁFICAS, ZOOLÓGICAS E VEGETAIS
Na atual divisão territorial do Brasil, retrato mal retocado das coloniais capitanias hereditárias, encontramos estados gigantes, médios e anões, em extensão territorial e em população, com extremos como São Paulo e Amapá, por exemplo.
Algo parecido ocorre no reino animal, onde convivem em paz um elefante e um camundongo, e no reino vegetal, onde viajam juntas uma melancia e uma amora (da longínqua e saudosa infância, lembro-me do chiste: “você gosta de amora? Vou contar pra tua mãe que você namora”; a rima era espontânea).
A divisão territorial mexe com a bandeira e com o Congresso.
Na bandeira, cada estado, incluído o Distrito Federal, é representado por uma estrela. Isso significado que, a cada desdobramento ou junção de estados (como já ocorreu, e ainda poderá ocorrer), modifica-se a bandeira, com o acréscimo ou a supressão de uma estrela. Para evitar esse transtorno (são milhares de bandeiras brasileiras, pelo Brasil e pelo mundo afora), por que não simplificar e até embelezar a nossa bandeira, com a exclusão da legenda “ordeira e progressista”, deixando-a só com 5 estrelas (uma bandeira 5 estrelas!), a constelação do Cruzeiro do Sul, que já lembra o contorno do país? As 5 estrelas representariam as 5 grandes regiões naturais: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
No Congresso, cada estado, independentemente do seu tamanho e importância, tem direito a eleger 3 (três) senadores, 81 (oitenta e um!) ao todo, no país. Ali, quase todos mamam e se fartam sem ligar a mínima para o povão desempregado e esfomeado. Mamata e fartura para poucos, sofrimento e miséria para muitos. Mamateiros e estelionatários versus famélicos e enfermos. O Senado é uma piada. Deveria ser caso de polícia. Deveria… mas cadê peito e independência, de quem de direito, para pôr um fim à farra (ou farsa) política?
CUNHA, O CHEFE DA QUADRILHEIRA CÂMARA FEDERAL
Como um sujeito mais do que bandido, pôde tomar conta da casa durante tanto tempo, na condição de presidente? A dedução está na cara: ele era o chefe da bandidagem ali abrigada.
Se ele está engaiolado, deve ser uma ave.
Se é uma ave, um suave colibri ou um horrendo abutre, deve ter um bico e não uma boca.
Se tem um bico e resolver abri-lo, vomitará cobras e lagartos no colo dos ex-colegas, sujando-os ainda mais, e aí, cada um que se limpe como puder.
Se ele está enjaulado, deve ser um animal.
Se é um animal, um meigo gatinho ou um assustador chacal, deve ter um focinho e não um nariz.
Se tem um focinho e resolver usá-lo, desvendará podres e sujeiras no “trabalho” dos ex-colegas, comprometendo-os ainda mais, e aí, sebo nas canelas, salve-se quem puder.
GAROTINHO, O VILÃO DA VILA DE CAMPOS DOS GOITACAZES
O menino estaria desfrutando de regalias numa clínica particular, e por isso a justiça determinou a sua remoção, à força, de forma desumana, para uma clínica pública. Lá, ele arcava com as despesas; aqui, é o governo quem paga. Dá para entender?
Criminoso ou não, cada um tem o direito de internar-se na clínica que bem entender, desde que por conta própria. Por isso, vejo injustiça e violência naquele espetáculo da remoção forçada. E se ele tivesse piorado, e morrido, devido aos maus tratos? De quem seria a culpa? Do morto que não morreu, mas foi morrido?
Já que ele é garotinho, o esperado era que ele fosse tratado com a máxima delicadeza, como a lei obriga que se faça com os garotões bandidos “de menor”, os quais, quando surpreendidos na execução dos piores crimes, não podem ser presos, são “apreendidos” e hospedados no Hotel 6 Estrelas chamado Fundação Casa, que lhes faz tanto bem quanto lhes fazia a antiga FEBEM, ”fundação para o bem estar de menores criminosos, epa, infratores…
QUEM PERDE, GANHA
Como na eleição presidencial dos Estados Unidos, também no jogo do vôlei, quem faz menos pontos pode ser declarado o vencedor (já toquei nesse assunto do vôlei, mas não custa reprisá-lo).
Lá, mesmo com uma diferença de dois milhões de votos a menos, a trumpolinagem foi eleita, trump ou trampo presidente, uma hilaridade.
No vôlei, caso sui generis no esporte, a equipe que totalizar menos pontos que a adversária, pode ser a vencedora.
Senão, vejamos: uma equipe ganha dois sets por 25 x 10 e 25 x 12, e perde dois sets por 25 x 21 e 25 x 19, e assim a decisão vai para o tal tiebreaker, vencido por 15 x 12 pela equipe declarada vitoriosa mas que havia perdido os sets de 25 x 10 e 25 x 12.
No total, a equipe vitoriosa totalizou 10+12+25+25+15 = 87 pontos, enquanto a derrotada totalizou 25+25+12+19+12 = 102 pontos.
Um set de 25 x 23 vale tanto quanto um set de 25 x 11. Assim, se um set está em 18 x 7, para que gastar energia na tentativa de reduzir o placar? É melhor perder logo, e reservar energia para o set seguinte.
ENFIM, ALGO BONITO
O poema XADREZ, de Jorge Luis Borges, na bela tradução de JOSELY VIANNA BAPTISTA, in O Fazedor: Companhia das Letras, 2008, pp. 66-69
XADREZ
I
Em seu austero canto, os jogadores
Regem as lentas peças. O tabuleiro
Prende-os até a alva no severo
Espaço em que se odeiam duas cores.
Dentro irradiam mágicos rigores
As formas: torre homérica, ligeiro
Cavalo, armada rainha, rei postreiro,
oblíquo bispo e peões agressores.
Quando os jogadores tiverem ido,
Quando o tempo os tiver consumido,
Certamente não terá cessado o rito.
No oriente acendeu-se essa guerra
Cujo anfiteatro é hoje toda a Terra.
Como o outro, esse jogo é infinito.
II
Tênue rei, oblíquo bispo, encarniçada
rainha, peão ladino e torre a prumo
sobre o preto e o branco de seu rumo
buscam e travam sua batalha armada.
Não sabem que a mão assinalada
do jogador governa seu destino,
não sabem que um rigor adamantino
sujeita seu arbítrio e sua jornada.
Também o jogador é prisioneiro
(a máxima é de Omar) de um tabuleiro
de negras noites e de brancos dias.
Deus move o jogador, e este, a peça.
Que deus detrás de Deus o ardil começa
de pó e tempo e sonho e agonias?
-JORGE LUIS BORGES