Naturalmente bandidos

 

BAURU, quinta-feira, 4 de maio de 2017                                                              Jornal da Cidade

Naturalmente bandidos

Não convém divulgar às crianças, mas existem pessoas de má índole. Discordo da simplificação grotesca, segundo a qual o homem é mero produto do meio. Conheço pessoas, muitas, que nasceram e cresceram em ambiente hostil, vivenciando violências e desrespeitos os mais diversos, e no entanto são incapazes de qualquer maldade. Conheço pobres e miseráveis incapazes do mínimo roubo ou desonestidade, e conheço injustiçados que não nutrem qualquer desejo de vingança.

Nada sei da formação da personalidade, e tampouco conheço os meandros da psicologia, mas filio-me aos meramente intuitivos, nada científicos, que juram que os homens não nascem vazios, como uma caixinha onde vamos depositando valores morais. Nada sei de ocultismos e teorias de ancestralidade, mas sinto que a bagagem básica das pessoas já existe na vida fetal. Podemos, tão somente, inibir parte da selvageria e crueldade natas.

É comum irmãos, nascidos e criados no mesmo ambiente, portarem-se de maneira diametralmente opostas, e é comum filhos de pais que não prestam serem ótimas pessoas. Em momento de radical realismo, apimentado por visão pessimista da humanidade, não titubeamos em afirmar que a maioria das pessoas que figuram como boas são, em verdade, feras domesticadas, ou temerosas de praticar os atos que natural e maldosamente desejam. Nenhuma ideologia ou lavagem cerebral é capaz, por si só, de induzir uma pessoa a praticar o terrorismo, matando transeuntes que sequer conhece, explodindo crianças e envenenando multidões.

Acredito que existe um permanente embate entre a selvageria e a civilidade, e passamos pela vida tateando a tênue linha que divide as tendências humanas. Milionários criminosos, autoridades corruptas e déspotas em geral são, antes de qualquer classificação, pessoas más, capazes dos mais hediondos atos. As crises, como a que atravessamos, desvendam a maldade que causa tanta miséria e sofrimento, e a maquiagem que reveste pessoas tidas como celebridades, frequentadoras assíduas de rodas formalmente educadas e suntuosas. A maldade frequenta castelos e favelas, mansões e barracos, esquinas e avenidas.

Acostumada às maldades, a humanidade esquece de prestigiar e propalar os bons exemplos, confinando as dignidades ao rol de insignificâncias. É tempo, faz tempo, de premiar os justos, erigindo templos à virtude, e agindo como aquele que, sendo bom, justo e pacífico, não hesitou em açoitar os vendilhões do templo. Ser bom não é ser manso.

Pedro Israel Novaes de Almeida – O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.